Tabela de fretes: será esse um enigma?

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Tabela de fretes: será esse um enigma?

Tabela de fretes, tal qual nos tem sido apresentada, se tornou protagonista enigmática (*) das pautas de logística e transportes. Há explicações para isso e os motivos são tão amplos e complexos, como “simples e conhecidos”, para dizer o mínimo.

Na década de 80 a tabela, até então publicada pelas entidades patronais dos transportadores, foi suprimida com o argumento de que em mercados de livre concorrência, não há que se administrarem preços.

Advertência sobre o “transporte”: existe grande variedade e diversidade na movimentação de mercadorias que vai das cargas completas dos centros produtores de grãos até os portos (exportação); distribuição de produtos industriais nas cidades, (conhecido como abastecimento); entrega de itens adquiridos pela Internet; ou mesmo pizza delivery.

Na Greve dos Caminhoneiros (maio de 2018) a safra de grãos foi de 228 milhões de toneladas representando  (teoricamente) 5.9 milhões de viagens de caminhões.   Nesta, 2018/2019, a estimativa é de 241.3 milhões de toneladas  ou  6 milhões de viagens rodoviárias, considerando um veículo com capacidade de 40 toneladas.  

Além das safras, o Brasil transporta praticamente 60% de todas as mercadorias por rodovias. Para movimentar essa quantidade existe (desde 2006, pelo BNDES) incentivo para a compra ou troca de caminhões, com juros e carências especiais. Um negócio da China.

Acrescentar veículos (estima-se em 300 mil a quantidade adicionada) sem retirar e sucatear os veículos velhos (mais de 20 anos de uso) significa ter frota além da demanda e com isso, aumentar o custo, ampliar a concorrência e a ociosidade reduzindo as margens de lucro.

No transporte, assim como em outras atividades essenciais e críticas,  o problema se resume em poucos fatores: peso, distância, prazo e qualidade do serviço.

Uma dezena de outras variáveis poderia ser acrescentada e discutida, mas essas são, em apertado resumo, as que importam.

No auge da paralisação e greve,  o Governo Federal pacificou a questão aprovando -de afogadilho-, todas as reivindicações dos caminhoneiros (estes, também divididos e difusos numa infinidade de interesses).

Baixada a poeira, resta desatar os nós. A solução poderá ser arbitral, jurídica, sindical, financeira, estratégica e etc. Para qualquer que seja, não há espaço para tabelamento de valores.

Esse assunto tem que ser afastado das instâncias de governo, Trata-se de oferta e procura. Onde há mais gente querendo vender (que comprar) os preços baixam. De forma recíproca e inversa, os preços sobem.

Nada do que argumentamos é desconhecido dos transportadores, sejam eles grandes embarcadores de cargas; sejam caminhoneiros, com ou sem veículos próprios.

Longe das “boleias” (cabine dos veículos ocupada pelos motoristas) o assunto já está resolvido: as cooperativas e as 6 ou 8 maiores “traders” mundiais, grandes compradoras de safras sabem que terão que ter uma frota estratégica capaz de dissuadir movimentos grevistas e falta de transporte.

O que sobra é certa nostalgia e romantismo inspirado em histórias reproduzidas nas páginas dos romances e adaptados às telas dos cinemas narrando os embates entre frações hegemônicas em conflito. (vide Luta Incerta de John Steinbeck, A leste do Éden, do mesmo autor, para ficar somente nesses 2 exemplos).

As oportunidades de baixar custos existem e estão em melhorar a matriz dos transportes (trem/navios  X caminhão); melhorar as estradas para se conseguir viagens mais rápidas e mais baratas, inibir o roubo de cargas e a sonegação fiscal; reduzir a burocracia e a papelada e incorporar tecnologias para que tudo seja feito de forma racional e econômica.

E as tabelas de fretes? Deverão ser “arquivadas” em algum móvel esquecido dos ministérios para nunca mais saírem desse lugar.

(*)”Deciframe ou te devoro“. Esse era o desafio da Esfinge de Tebas. Ela eliminava aqueles que se mostrassem incapazes de responder a um enigma: “Que criatura tem quatro pés de manhã, dois ao meio-dia e três à tarde?”. Todos os que ensaiaram a resposta haviam sido estrangulados.

Paulo Westmann

Membro do DEINFRA/FIESP

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