A hora da bolsa

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Economista – Roberto Padovani

A despeito das incertezas de curto prazo, a agenda econômica do novo governo aumenta a confiança na solvência pública e sustenta a trajetória de valorização do Ibovespa.

julho 2019

A bolsa talvez seja hoje o melhor termômetro da confiança em relação ao País. Enquanto o câmbio tem sido marcado pelas incertezas globais e o mercado de juros vem sendo guiado, em parte, pela fragilidade do crescimento, o Ibovespa reflete a expectativa dos agentes acerca do futuro da economia e da política.

De fato, as incertezas em relação ao crescimento global não favorecerem um novo ciclo de alta dos preços de commodities e, com isso, a busca por risco dos investidores. Os dados mostram que desde 2015 a participação de não residentes no mercado acionário vem se reduzindo, o que pode ser percebido também pelo fato de a valorização recente do Ibovespa não estar sendo acompanhada pela apreciação do câmbio, como é o padrão.

Mas a despeito da tensão externa, da lentidão da retomada econômica e dos ruídos políticos locais, não se observou uma tendência de queda de preços. Pelo contrário. Neste ano, o índice oscilou sempre ao redor do elevado patamar de 95 mil pontos e desde o início de 2018, período de elevada turbulência, o Ibovespa subiu mais de 30% em termos nominais, quase 20% em termos reais e cerca de 15% em dólar. O mercado opera acima da média dos últimos 17 anos em todas as referências e acaba de superar a marca de 100 mil pontos.

Uma possível explicação para este bom desempenho é a percepção de que a manutenção de uma agenda responsável fará a diferença. Com efeito, a gestão da economia e o avanço das reformas serão decisivas para gerar um círculo virtuoso entre juros baixos, investimentos, produtividade e crescimento. O resultado será a maior previsibilidade econômica e política, reforçando a trajetória de recuperação cíclica em curso.

Vale notar, por este aspecto, que a queda acentuada nos juros de longo prazo observada desde 2016 não está associada apenas à fragilidade da economia e à política monetária, mas também à percepção de menor risco do País.

Este ambiente é obviamente favorável para a bolsa. Com juros permanentemente mais baixos, as despesas financeiras das empresas tendem a cair ao mesmo tempo em que se amplia o espaço para expansão dos negócios e valorização dos ativos, implicando melhores condições financeiras e de competitividade.

Chama atenção também a importância da reforma da previdência para as expectativas de mercado. Estatisticamente, o Ibovespa tem sido influenciado pela taxa de juros local, preços de commodities, risco soberano, câmbio e métricas da cautela do investidor global. Mantido os níveis atuais destas variáveis, a estimativa é que uma queda marginal do CDS para 120 bps já seria suficiente para levar o índice para 110 mil pontos. Ou seja, a percepção de solvência da dívida pública justifica uma nova mudança no patamar de preços das ações.

Mas o cenário pode ser ainda mais favorável, ampliando o horizonte para a bolsa. Um novo ciclo de afrouxamento monetário doméstico tende a reforçar o impacto positivo de um ambiente marcado pela estabilização do crescimento nos Estados Unidos e na China, pela liquidez global elevada e por preços de commodities estáveis.

Ainda que os movimentos dos ativos financeiros não sejam lineares, o quadro externo pode potencializar os avanços domésticos, permitindo que o Brasil capture parte do posicionamento dos investidores estrangeiros em ativos de países emergentes.

Este é um ponto importante. Como a valorização recente do mercado tem sido liderada, atipicamente, pelas posições do investidor local, a expectativa de aumento de ingressos de capitais sugere um novo ciclo de alta à frente.

O Ibovespa, portanto, reflete a confiança no novo ciclo econômico e político que se iniciou em 2016, sendo a leitura de solvência da dívida pública peça central neste jogo. Apenas uma forte desaceleração na China ou o fracasso da reforma da previdência poderiam tirar a economia dos trilhos e afetar o índice. Como não parece ser este o caso, então o momento é de buscar risco. Chegou a hora da bolsa.

https://www.linkedin.com/pulse/hora-da-bolsa-roberto-padovani/

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